segunda-feira, 9 de maio de 2011

Breve memória familiar e comercial da África Oriental portuguesa (VI) - o irmão Domingos dos Reis (cont.)

Domingos dos Reis revelou-se um comerciante com visão prospectiva e um empreendedor que aproveitou as oportunidades que o processo de desenvolvimento de uma urbe como Nampula potenciou.
Além disso, Domingos dos Reis – à semelhança do irmão João dos Reis, que ocupara na Ilha de Moçambique diversos cargos e funções de interesse público – dedicou-se, também, à causa pública, tendo sido vogal da Comissão Administrativa (correspondente à actual câmara municipal) da Vila de Nampula e, em certo momento, seu presidente.
O edifício onde primeiro funcionou a firma João dos Reis & Irmão, já após a instalação da firma Cassam Vissram, depois da urbanização da Av. Presidente Carmona.

Casa de Domingos dos Reis e esposa na Ilha de Moçambique. O casal em visita em 1970.


Era um tempo de expansão da urbe, pelas incessantes necessidades de estabelecimento de serviços públicos, empresas industriais e comerciais, bem como de fixação de população, chegada da metrópole para os quadros que se tornava necessário preencher. Importava providenciar por infra-estruturas de toda a ordem, desde edifícios que pudessem servir de instalações de serviços públicos coloniais (nos domínios ferroviário, aeronáutico, agrícola, da saúde, de ensino, militar e administrativo) a complexos residenciais. Esse processo de desenvolvimento que começou a ter lugar no início da década de 40 do séc. XX, conheceu o seu expoente na transição da década de 40 para a de 50.


Um dos edíficios mandados construir por Domingos dos Reis, em Nampula.


Só depois, a partir do início do início da luta armada de libertação (1961), a urbe experimentou novo processo de reexpansão, podendo dizer-se que, em meados da década de 60, o núcleo urbano da cidade de Nampula se havia estabilizado, com a configuração que ainda hoje, em grande medida, apresenta.
Domingos dos Reis foi, à sua dimensão, um dos artífices daquele primeiro processo de ordenamento e desenvolvimento da então Vila de Nampula, a vários títulos notável.


A catedral de Nampula em construção.

Mercê da existência de extensos espaços no meio de um planalto, traçou-se prospectivamente uma cidade de malha ortogonal, de acordo com os princípios do “modelo urbanístico colonial francês”, com largas avenidas principais de duas vias e com arruamentos secundárias de dimensões generosas. Tal traçado permitiu sempre um tráfego automóvel e pedonal desafogado, bem como uma harmoniosa integração do património construído na paisagem natural. Só raramente assim não foi.
Foi este o tempo do início da construção da catedral de Nampula (também se construíram catedrais em África), de projecto de Raul Lino, da rotunda do Infante, e de diversos edifícios de relevo.


Construção e arruamento da Praça do Infante, ao fundo da Av. Presidente Carmona.


Início da Av. Pres. Carmona, em Nampula, perto da estação dos CFM.



Conforme já se disse, é em 1935 que a cidade de Nampula se converte em capital de Distrito, destronando a Ilha de Moçambique. Em 1940 é instituída a diocese de Nampula. Só em 1956 a Vila é elevada a cidade Nampula.
Domingos dos Reis prossegue o giro do Café Nacional e de gestão do seu parque edificado, do qual recebe o rendimento que lhe permite começar a pensar em reformular o seu projecto de vida e o progressivo abandono do território.

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