sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Não acreditar em cidades imaginadas

Não confies
quando te seduzirem as cidades-modelo
ou "urbes inteligentes"

Faz por viver numa cidade
onde trabalhem ardinas, peixeiras, alfaiates e ourives
Onde se ouçam os melros e os pintassilgos
e haja poeira, gatos
e tempo das vizinhas
E sinais sem marcar distância
com inscrições a cal
Onde se sinta o silêncio

Pode ser uma cidade com mar
onde os marinheiros se perdem 
nas ruelas das encostas
e nas tabernas até de madrugada
Onde haja carroças em volteio 
à frente dos chafarizes
Onde a imperfeição não signifique fealdade

Uma cidade autêntica
feita de pedra, telha, hortas e madeira
Assegura-te que a cidade seja incompleta,
mas onde não faltem crianças, prostitutas e ladrões.