Malangatana

O ano que terminou já teve muitas mortes. Demasiadas mortes.

O ano que começa, ameaça não ser melhor.

Agora, a morte de Malangatana: é um pouco da força imensa da cultura e da natureza africanas - através de ideias, de formas e de cores autênticas -, que desaparece. É uma notícia tristíssima, porque morre um amante da Vida.

Ultimamente, Moçambique tem visto partir muitos vultos da Cultura e da Arte; só para lembrar alguns: Albino Magaia, Ricardo Rangel, agora Malangatana.

Apesar de ser um País com enorme fulgor artístico e cultural, essas pessoas fazem falta...

Subida

Preço de açúcar e farinha
subiu.
Ai a passividade animal!
Na Machava começou fome de amendoim
preço de amendoim na cantina subiu.
Gente de Chamanculo tem sede
subiu preço de «gogogo» de água.
Ai a passividade animal!

Porão tem muita carga
guindaste matou «mavique» na ponte-cais
«Djimizhana» morreu na roda do camião
riquexó não pára na ilha de Moçambique
«m´gaíza» não voltou das minas do Jone...
Ai a passividade animal!

Patrão bateu, bateu:
- «cão narro que te mato!»
Mamana foi nos porões para S. Tomé
«shipakana» trabalhou na Administração...
Ai a passividade animal!

As machambas encheram-se de milho
preço de milho subiu.
os campos cobriram-se de algodão
preço de capulana subiu.
Começou frio na palhota
subiu preço de «xiganda-bongolo»...
Ai a passividade animal!

Arroz de Gaza apodreceu nos armazéns
na Zambézia a seca rebentou barrigas negras...
Na Manhiça milho sobrou nos Celeiros
e nem um milho para cem bocas no Mossuril.
No Guijá deu muita mexoeira
mas nem um grão de mexoeira
nem ao menos um grão em Mocímboa do Rovuma.
Ai a passividade animal!

Preço de pão subiu
leite subiu
sangue subiu
e a carne também subiu.

Tudo subiu
subiu como o Incomáti na raiva da cheia...

Ai da passividade animal!

[José Craveirinha]