domingo, 1 de maio de 2011

Breve memória familiar e comercial da África Oriental Portuguesa (V) - O irmão Domingos dos Reis (cont.)

Domingos dos Reis veio estabelecer-se em Nampula, já o dissemos, pelo incentivo do irmão João. Nampula conheceu um processo de desenvolvimento mais acelerado a partir de 1934, incentivou os irmãos sócios a ali se fixarem com mais permanência. Domingos dos Reis casou com Haidée Lopo ainda na Ilha de Moçambique. Tiveram duas filhas, Natália e Maria Alice, residindo uma actualmente em Portugal, outra no Canadá.
Ali prosseguiu a consolidação da actividade comercial da sociedade João dos Reis & Irmão, não descurando, no entanto, algumas iniciativas pessoais, nomeadamente no tocante à expansão de um importante património imobiliário, numa fase em que se fazia sentir a carência de infra-estruturas para o estabelecimento de actividades oficiais, comerciais e habitacionais. Deu, assim, início à construção de uma série de edifícios em diversos locais de Nampula, muitos deles ainda hoje em bom estado e em perfeitas condições de utilização, que dava de arrendamento.
A primeira dessas construções foi a do original Café Nacional (que é edifício onde hoje se encontra a «Nova Zuid») e do complexo comercial anexo, onde durante muito tempo esteve instalada a Casa Primus e a Ourivesaria Tito Martins. Para ali se transferiu o estabelecimento da sociedade João dos Reis & Irmão, que ocupou, como já tivemos ocasião de dizer, o primeiro edifício de alvenaria de utilização particular, da localidade.
Tratou-se de um impulso muito relevante na expansão das actividades comerciais, pois que foi ali que a sociedade conheceu um período de maior consolidação, com a exploração da actividade de hotelaria (pensão e café), representação de seguros, venda de lotaria, valores selados, importação e exportação de artigos por junto e, posteriormente, posto de abastecimento de combustíveis.
Café Nacional




O Café Nacional tornou-se numa espécie de ponto de encontro obrigatório entre funcionários, militares, comerciantes, bancários, caixeiros-viajantes (que lá ficavam alojados), «machambeiros» (que vinham à localidade tratar de assuntos burocráticos e abastecer-se de produtos e equipamentos), os quais se reuniam ao fim da tarde para discutir a actualidade da vida da Província. Sempre, é claro, acompanhado de bom marisco e muito gin, whisky com gelo e outras bebidas adequadas ao clima.

Edifício onde se instalou a firma Vitoldás, contígua ao estabelecimento original de João dos Reis & Irmão.

Domingos dos Reis, esposa e uma das filhas.


A actividade da sociedade prosseguiria normalmente até 1949, ocasião em que o irmão João decide regressar à metrópole, pondo fim e liquidando a mesma. Fariam partilha dos bens, ficando o edifício da firma Cassam Vissram, uma quinta entretanto adquirida pela sociedade no Norte de Portugal e a livraria de Braga para o irmão João. Para Domingos ficou o resto dos imóveis em Moçambique e o património social, que continuou sob o seu giro pessoal.


Domingos dos Reis permanece na Província, abandonando progressivamente as posições da Ilha de Moçambique e de Angoche, concentrando-se nas actividades - agora a título individual - na então vila de Nampula.

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