domingo, 6 de março de 2011

Breve memória familiar e comercial da África Oriental portuguesa (I)

Nampula é uma cidade moçambicana relativamente recente. Começou a definir-se como tal nos inícios do séc. XX, mas a sua invejável malha urbanística só em meados desse século começou a ser concretizada. Diz-se ter sido cognominada como «cemitério dos brancos», mas esse é um epíteto que muitos outros lugares africanos mereciam na altura, dada a elevada taxa de mortalidade de europeus por malária.

Nampula só conheceu um processo de desenvolvimento acelerado alguns anos após a cidade da Ilha de Moçambique ter deixado de ser capital da colónia e de a centralidade do comércio e da agricultura se ter aprofundado no "hinterland" do Distrito de Nampula.

Foi o tempo do estabelecimento de muitas firmas comerciais e agrícolas, algumas delas já sedeadas na Ilha de Moçambique e em Angoche, designadamente comércios generalistas (cantinas), de víveres, vestuário elementar, e pouco mais. Estabeleceram-se alguns goeses e portugueses idos da metrópole, na procura da fortuna.

Um desses portugueses foi João dos Reis, um de seis irmãos de uma aldeia da Beira Baixa, que decidiu ir para a colónia em busca de um futuro mais promissor.

Ali se estabeleceu em diversos locais, a partir de 1924, desde a Ilha de Moçambique até Angoche, fixando-se por último em Nampula. Segundo se afirma, por memória oral, o primeiro edifício particular em alvenaria, da então pequena localidade, foi mandado construir por João dos Reis.

Pouco tempo depois, João dos Reis daria sociedade nos negócios de comércio geral ao seu irmão Domingos dos Reis, passando a mesma a denominar-se «João dos Reis & Irmão» (sociedade em nome colectivo).

Esse edifício ainda hoje se encontra em Nampula, ali se encontrando instalada a Ronil (sendo também, na parte habitacional, actual residência do Senhor Arnaldo Constantino, verdadeira lenda viva da cidade, pelo seu passado desportivo automobilístico, português que, após alguns anos em Portugal no período pós-descolonização, decidiu regressar a Nampula, ali se estabelecendo de novo).

O edifício com o aspecto original.

Após algum tempo, a sociedade João dos Reis & Irmão foi dissolvida e, por meados da década de 40 do século passado, João dos Reis regressaria à metrópole, onde se estabeleceu na cidade de Braga, onde abriu e passou a explorar a Livraria Central.


Domingos dos Reis permaneceria em Nampula, encarregando-se dos negócios dos outros irmãos.

O edifício da sociedade passou a ser arrendado a um comerciante de origem goesa, o Senhor Cassam Vissram, que o passou a explorar. Posteriormente, dada a cessação da actividade desta firma, o estabelecimento passou a ser explorado por Guilhermino Pereira Paulo, que o modernizou, designando-se «Pegue-e-pague», na altura o mais avançado supermercado da cidade (apesar da "patine" colonial). Guilhermino Paulo viria a adquirir o edifício em 1968 a João dos Reis, ali o explorando até depois da descolonização do território.

O edifício já com o estabelecimento da firma Cassam Vissram (após o seu arrendamento).

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