sexta-feira, 6 de março de 2009

Manuel Hermínio Monteiro, urbano-pessimista antes do tempo

«Em Viana do Castelo o edifício Jardim é um escândalo no resto da cidade. Eis um caso de polícia. Vila Real é uma cidade amuralhada por torres (edifícios Miracorgo), interrompendo definitivamente o diálogo com a paisagem envolvente. Em Viseu uma torre veio estragar o velho casario encimado pela Sé e vê-se, paradoxalmente, promovida pelos folhetos turísticos locais. Lamego: entre o castelo e o conjunto da Senhora dos Remédios, um mar de cimento armado até aos dentes. Braga é o maior escândalo. uma das mais belas e a mais monumental das nossas cidades foi espatifada por irresponsáveis. Faro, e sobretudo, Portimão, é o que se sabe. Olhão: uma torre, pior que a de Viana, sobre as casas baixas da nossa cidade das açoteias. Setúbal, destruições imparáveis no Largo da feira. Por detrás da alta estátua de Bocage um brutal edifício (de quantos pisos?) cresceu, obstruindo-a. Aveiro sem mãos a medir até à Costa Nova. Bragança e Guarda, destruição definitiva de velhos mercados. para quê? Coimbra. o que se vê ao fundo da Ferreira Borges. E a Figueira da Foz a caminho de Buarcos? E a Póvoa de Varzim? Que se pretende fazer de Portugal?»

[Manuel Hermínio Monteiro, K, n.º 8, Maio de 1991]

Portugal era assim em 1991.
Em 2009, nem piedosos programas «Pólis», nem recuperações de zonas ribeirinhas, nem reabilitação de centros históricos, nem fundações para o desenvolvimento inverteram o panorama. Pelo contrário, parece que tudo se degradou de forma acelerada.

Sem comentários: