quinta-feira, 10 de março de 2011

Breve memória familiar e comercial da África Oriental portuguesa (III) - João dos Reis, o "pioneiro"

Ilha de Moçambique nos anos 40 do séc. XX

Nampula terá começado a ser algo diferente de um lugarejo no meio do sertão africano em 1907, ano em que se decidiu empreender o estabelecimento de uma localidade fortificada dentro do «hinterland» da então África Oriental portuguesa, a fim de se dar cabal satisfação às exigências de ocupação dos territórios coloniais determinadas na Conferência de Berlim de 1885.

Na conjuntura do pós I.ª Guerra Mundial, em que as condições de vida da metrópole a isso incentivavam, e porque a região fora «pacificada» após as campanhas de Neutel de Abreu, que formalizara a Paz com o régulo Mucapera (seu "irmão de sangue"), as expectativas de negócios rentáveis e actividades com alguma estabilidade na administração colonial, atraíram muitos portugueses ao local que era o embrião da cidade de Nampula.

Confraternização colonial


Um desses portugueses foi João dos Reis, um de seis irmãos de uma aldeia da Beira Baixa, que estudara no Instituto Lusitano em Lisboa nos anos de 1916 e 1917 algo que hoje se interpretaria como diploma em Contabilidade e Comércio Internacional. Propôs-se a si mesmo só se aventurar em África depois de uma sólida formação técnica, profissional e humana, com planos de, mais do que enriquecer, contribuir para o enriquecimento humano e para o progresso de um território onde tudo era preciso fazer.

Parte para Moçambique em 1923, então África Oriental portuguesa a bordo de um dos vapores que faziam a ligação entre a metrópole e o ultramar, através do Canal do Suez, rota que utilizou por mais de uma vez.

Estabeleceu-se inicialmente na Ilha de Moçambique, então capital do Distrito de Nampula, onde foi Vereador da Câmara Municipal, fundador da Associação Comercial, perito do Tribunal Aduaneiro e Fiscal, vindo, depois, a ser membro da Comissão de Melhoramentos dos Caminhos de Ferro. Em 1929 foi encarregado da representação da Câmara Municipal de Moçambique em Porto Amélia (actual Pemba) na cerimónia de transferência da Companhia do Nyassa para a tutela directa do Estado.

Só alguns anos depois viria a transferir parte dos seus negócios para a nova localidade emergente no interior, Nampula, onde funda a firma João dos Reis & Irmão, com o irmão Domingos, que entretanto, fora chamado e se fixara em Angoche.

Cartão comercial da firma João dos Reis & Irmão

João dos Reis consegue, em conjunto com o seu irmão e sócio Domingos, expandir os seus negócios, como grossistas e retalhistas de diversas mercadorias, géneros, como agentes de seguros e, posteriormente, no que hoje se convencionaria designar por hotelaria.

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