sábado, 31 de julho de 2010

Forgotten guitars from Mozambique



É um raro documento musical.
Já em tempos, muito oportuna e justamente lembrado (e comentado) no ma-schamba.

Além das habituais casas on-line, disponível, também, na tradisom (foi onde encomendei o meu).
Boa audição.

Kachamba Brothers (Part I 1967)

Mais um «cheirinho» de Kachamba Brothers.

Daniel Kachamba (Malawi)

Música africana (guitarra) do Malawi. O ritmo incorpora o que se convencionava chamar em Moçambique, «simanjemanje». Quiçá tenha reminiscências de outros estilos (blues e jazz, certamente).

Pode encontrar-se um sentido universal neste som. Mais do que divulgar um documento histórico e etno-musicológico singular, trata-se de lembrar verdadeiros artistas esquecidos, na poeira dos tempos. Obrigado Kachamba Brothers (from Malawi).

Descolonizámos o Land-Rover


Já não é carro cobrador de impostos.
Nós descolonizámo-lo.
Já não é terror quando entra na povoação.
Já não é Land-Rover do induna e do sipaio.
É velho e conhece todas as picadas que pisa.
É experiente este carro britânico
Seguro aliado do chicote explorador.
Mas nós descolonizámo-lo:
No matope e no areal
Sua tracção às quatro rodas
Garante chegada às machambas mais distantes
Às cooperativas dos camponeses.
Entra na aldeia e no centro piloto
Ruge militante nas mãos seguras do condutor
Obedece fiel a todas as manobras
Mesmo incompleto por falta de peças.

Descolonizámos o Land-Rover!

Com nossos produtos
Compramos combustível que consome
Com nossa inteligência
Consertamos avarias que surgem
Com nossa luta
Transformamos em amigo este inimigo.
Nós, descolonizadores
Libertámos o Land-Rover
Porque também ficou independente, afinal
Transformaram-se os objectivos que servia
E hoje é militante mecânicoUm desviado reeducado
Uma prostituta reconvertida em nossa companheira.
Descolonizámo-la e com ela casámos
E não haverá divórcio.
De Tete a Cabo Delgado
Do Niassa a Gaza
Da sede provincial ao círculo
Este jeep saúda quando passa
O Caterpillar seu irmão
Outro descolonizado fazedor de estradas
E cruza-se com o Berliet atarefado
Ex-pisador de minas
Eles aprenderam com a G-3
Menina vanguardista na mudança de rumo
A primeira a saber e a gostar
A diferença antagónica
Entre a carícia libertadora das nossas mãos
E o aperto sufocante e opressor do inimigo que servia.

As mãos dos operários que o fabricam
são iguais às mãos dos operários da nossa terra.
Essas mãos inglesas que o criam
Um dia saberão que ajudaram a fazer a revolução
e vão levantar o punho fechado da solidariedade.

Ruge este militante nas picadas da Zambézia
Galga as difíceis estradas de Sofala
Passa pelos pomares de Manica
Pelo milho de Gaza
Pelas palmeiras de Inhambane
Na cidade do Maputo descansa.
Transporta pelo país
Os olhos dos estrangeiros amigos
Que querem conhecer de perto a nossa Revolução

Descolonizámos uma arma do inimigo

Descolonizámos o Land-Rover!

Aquelas quatro rodas e um motor potente
Aquela cabine dos mecanismos de comando
Aquelas linhas da carroçaria irmanadas ao medo
Já não afugentam o povo:
Homens, mulheres e crianças do campo
Fazendo sinal ao condutor,
Pedem boleia.
Nós descolonizámos o Land-Rover
E dele
O povo já não foge!


Albino Magaia, escritor, jornalisa poeta e homem de cultura moçambicano [1947-27 de Março de 2010]