terça-feira, 29 de julho de 2008

Ilha do Moçambique: memórias do "colonial-fecalismo"

«Apareceu-me hoje de manhã no Tribunal um preto muçulmano, em estado andrajoso e, para mais, cego de um olho e mudo, o que, como está bom de calcular, gerou sérios problemas de comunicação. Acresce que não compreendia bem Português e, aparentemente, tampouco encontrava motivo para a sua detenção, pelo que se encontrava bastante agitado, chorando e esbracejando, a um tempo. Condoído da sua figura patética, averiguei o que se passara.

Abibo, é esse o seu nome, chegara ontem do continente, mais precisamente de uma das praias que se avistam da costa ocidental da Ilha, e desconhecia por completo as normas desta municipalidade. Fôra apanhado a defecar na praia como é uso na sua terra, até por aí não haver pedagogia em contrário, latrinas ou bacios. E, até com certa lógica, não acham os nativos melhor sítio para fazerem as suas necessidades, posto que a água do mar, com que se lavam depois do serviço, se encarrega em seguida de levar a imundice para longe. O hábito só pode, porém, ser considerado menos maus em locais onde não haja senhoras, o que não é aqui o nosso caso.

E foi assim que um sargento do exército foi alertado para o sucesso ao ouvir os gritos de Madame Benoit, uma viúva francesa que aqui permaneceu após a morte do marido, que jazia desmaiada no pavimento, tomada de indignação exacerbada pela visão do traseiro do mudo Abibo.

O mudo vai ser amanhã presente ao Juiz, embora se adivinhe que o esperam já uns dias de cadeia, por não ter com que pagar a elevada coima correspondente ao crime em causa.

Não se sabe, aliás, se será acusado de despejos ilícitos ou de atentado ao pudor.»

Mariano Gracias, Ilha de Moçambique, 4 de Agosto de 1899 (de Muhípiti, de Miguel Martins, Erasmus).

sábado, 19 de julho de 2008

Ilha de Moçambique

Na exaltação
dessa tranquilidade crespuscular

sentado na balaustrada
da conta-costa
de Muhipíti
de onde se alcança
a Ilha de Goa e os mangais da Cabaceira

Ouve-se o coro dos pescadores
que regressam nos dhows
trazendo a bordo
toda a confluência memorial
das raças, credos e saberes
dos homens
que lá se cruzaram

e ficar,
a saborear o vento
na frescura
das casuarinas
depois das luzes se acenderem
no Mossuril

terça-feira, 8 de julho de 2008

A Ilha, a preto e a cor

Exposição de fotografia de Sérgio Santimano e de Luis Abelard.
Inaugura amanhã, na Fábrica de Braço de Prata (Olivais), em Lisboa.
Do ma-schamba, com a devida vénia, rentransmite-se a informação.
A visitar.