sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Moledo ao frio

Moledo
ao frio sazonal
A horizontalidade marítima e das ruas desertas
cruzadas ortogonalmente
pela verticalidade dos sinais e dos lampiões.

A escassez de bulício e de transeuntes
hibernação dos corpos
preparando-se para o esplendor solar.

Os pinheiros ordinários
de uma mata icónica.

O forte, a foz, o rio e o mar
confluência histórica e de gentes
Outro país mais ao Norte

Respiração líquida de Inverno
a quietude das areias revolvidas
noutras estações

vejo os passageiros do comboio
olhando o mar
de Moledo.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Sem título

Com
Com pro
Pro com
Meto
Me to
Compro-me
Compro meto
Com prometo
Prometo com
Comprometo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Hai ku

De sistir
In sistir
Re sistir

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A clemência do instante

O opróbrio dos expectantes
concedendo-nos a clemência
do instante sorvido
sem qualquer pudor

reservando-se o que perdurar
para além de toda a redenção incorpórea.
Voláteis
como os embustes
de toda a sorte

e, no entanto, somos nós
os seus algozes
impetrando o silêncio,
a sombra e o credo.

sábado, 10 de novembro de 2007

As «ilhas» da Ilha



As crianças esgravatando o chão
os velhos fixando o manto calmo do mar
pescadores entoando canções a bordo
remam para o canal ventoso
que os há-de levar ao alimento
mais que do corpo,
de toda a sua existência

A plebe vivendo, agora, em paços
depois de assalto legítimo
aos armazéns da História
da cidade de pedra e cal

É igualdade em cada rosto
A Ilha é Grândola meridional
e grandiloquente
resistindo no Índico
num reencontrado esplendor
após as ruínas
plurais de um tempo,
não de um lugar.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Antítese tempestuosa

Da antítese tempestuosa
e calma

deflui
o sopro de incompletude
antónimo feroz
e rapace
dum angustiado
existir